Patu Fu está apagando as velinhas!

Com dez anos de carreira e citados entre as dez melhores bandas pela revista TIME, os mineiros do Pato Fu lançam o CD MTV Ao Vivo, gravado no Museu de Arte da Pampulha em BH, um disco agridoce com muito peso, baladas, melodias e acidez, tudo na medida certa e com muita sonoridade. A Rock Press andou conversando com John, guitarrista da banda e conta alguns detalhes sobre o CD e o reconhecimento pela Time.

A banda já estava pensando em comemorar de alguma forma os dez anos de estrada e o convite da MTV agradou em cheio. Mas nada de pegar a última turnê e ir registrando, daria menos trabalho, mas não teria muita graça. O quarteto queria um desafio: fazer o melhor disco ao vivo possível sem a obrigação de tocar uma quantidade igual de músicas de cada CD, ou seja, uma bolachinha com poucas inéditas e com músicas antigas que tivessem a ver com o que o grupo faz hoje em dia. Do Rotomusic de Liquidificapum, por exemplo, resgataram a faixa-título que na opinião deles é a que tem todos os ritmos num só e a tocaram da mesma forma que há dez anos, o que foi inusitado.

Seguindo a linha do diferente, nada melhor do que convidar pessoas que trabalhassem numa outra linha musical para adicionar mais sonoridades ao som do Pato Fu. A escolha não foi difícil: os integrantes do tradicional espetáculo Tangos e Tragédias, Nico Nicolaiewsky (acordeon e voz) e Hique Gomez (violino, serrote e voz) e o ex-Karnak Lulu Camargo (teclados). O nome da dupla sulista já estava em mente desde a época em que John assistiu ao Tangos e Tragédias e disse que os queria num trabalho ao vivo do Pato Fu porque são músicos com personalidade, e o tecladista Lulu era um músico com quem eles sempre quiseram trabalhar. Como o Hique e o Nico continuam em cartaz com o espetáculo, a turnê terá dois formatos de shows, uma com eles e outra somente com o Lulu, já com músicas num novo formato.

A volta às raízes não foi o único motivo para a banda escolher o Museu de Arte da Pampulha (MAP), em Belo Horizonte, para a gravação do disco, além disso há o clima intimista do teatro e a beleza singular da construção de Oscar Niemeyer que com certeza dará um bom resultado no DVD.

Para ter um disco ao vivo com sonoridades diferentes semelhantes aos de estúdio a banda precisou resolver várias questões técnicas e aí entra o clima intimista do teatro, para ter a platéia sob controle, o que seria impossível num show em praça pública, eles convidaram 150 integrantes de fã-clubes de todo o país que colaboraram durante a gravação. O resultado? Nas músicas mais tranqüilas parece que a banda está num estúdio com alguns convidados e só nas músicas mais agitadas é que dá pra escutar o barulho da platéia.

A bolachinha traz 19 sons, sendo um cover e 4 inéditas, entre elas uma música inspirada no que aconteceu com Herbert Viana, o título dela vem da primeira frase que Herbert disse quando acordou do acidente: Me explica. Como grande admirador do líder dos Paralamas, John tentou fazer a letra de uma maneira que as pessoas pudessem interpretá-la sem precisar saber qual era a inspiração, mas fez o possível para que se alguém interpretasse em que ele se inspirou, percebesse que foi feito de uma maneira respeitosa.

O numeral dez está mesmo perseguindo a banda, ficar entre as dez melhores bandas na lista da revista Time é a famosa surpresa pela esquerda, segundo o guitarrista. No fim das contas o que os deixou mais felizes nessa lista é que além de ser um cartão de visitas bacana se forem tentar algo nos EUA, as outras bandas que estão lá são bandas que eles adoram como Radiohead, Portishead e Aterciopelados. Se estivessem na lista da Time, mas com bandas que não tivessem nada a ver com o que eles acreditam, John falou que iria pensar: o mundo está enganado sobre o que ele pensa a respeito dele mesmo.

Sobre a possibilidade de fazer uma turnê nos EUA aproveitando a deixa da Time, o guitarrista disse que podem lançar os discos em outro país e fazer uma turnê, mas prefere acreditar nisso como um bônus da carreira e não como a principal frente de trabalho da banda. No exterior por enquanto só mesmo os CD’s na seção de World Music da Virgin Mega Store, e se por acaso começarem aparecer muitas possibilidades de fazer um trabalho fora, fariam uma coisa radical, como o Sepultura fez, com as músicas em inglês, e John explica: se fizerem algumas músicas em inglês e fizerem um puta sucesso internacional, na opinião dele, haverá muito mais atenção para o que mais possa vir aqui do Brasil, dentro desse mesmo universo musical pop rock e não acredita que isso possa acontecer com eles cantando em português. Para ele, a barreira é muito grande e para ter algum reconhecimento lá fora, têm que estar numa prateleira no P ao lado do Portishead ou Pink Floyd. Mas por enquanto, as fichas estão aqui no Brasil.

*Matéria originalmente publicada na Revista Rock Press em 2002.

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